terça-feira, 31 de agosto de 2010

Contem comigo mais tarde em Salém...

Escondo as palavras
De mim mesmo
Não as quero ditas
Usadas a esmo
Humilhando as verdades
Antigas e evidentes
Bato com os nós dos dedos
Nos momentos fechados
Que vivi impunemente
Escondo-me de mim mesmo
Como de um monstro
Olho discretamente
Para a lista dos gestos permitidos
Decreto que os instrumentos que falam
Sejam enclausurados
E por isso deixo as caixas
Com os seus cadeados
Sem investigar
Os números marcados
As horas circulam
Sem se somar
à minha volta
As ternuras perguntam
Pelos sinais
Os desejos são apenas
Gestos de outro tempo
Que não volta mais
Escondo-me
E comigo vão os demais
Ao longe porém
Ruídos tétricos e maquinais
Não vejo ninguém
Nem quero ficar só
Contem comigo
Mais tarde
Em Salém

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Onde estás fada prometida?

I
Onde estás fada prometida
Que me havias de amadurar
Onde andas que te não vejo
Nestas terras de encantar?
II
Procuro com bravo denodo
Qualquer suspiro me confunde
Tomo a parte pelo todo
Que em cada dia se funde
III
Nas tardes de sono dolente
Penso que vens abraçar
Cai a noite e bem te espero
Até a lua adornar
IV
Onde estás fada sentida
Que não te oiço a cantar
Quer chova quer faça sol
Como te hei-de encontrar?
V
Procurar já procurei
Encontrar tinha pensado
Se não és quem sempre amei
Porque ficas a meu lado?
VI
Pergunto em desespero
A quem possa elucidar
Como pode um amor vero
Assim ficar a penar?
VII
Onde estás fada madrinha
Onde estás desnuda e bela
Se és tua e não és minha
Vou partir num barco à vela
VII
Dizem velhos alfarrábios
Que nas ilhas dos amores
Aportam os velhos sábios
P`ra mitigarem as dores
VIII
Talvez daqui a cem anos
Volte de porto ruim
Mas se isso acontecer
Não tenham pena de mim
IX
Que em abono da verdade
Só não quis a solidão
De viver paredes-meias
Com uma fada sem condão

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Com o dia desvanece...


Com o dia desvanece
A ternura que nos implica
Partilhamos a mesma necessidade
Preferimos não nos tocarmos
Ao mesmo tempo
Desfrutamos o outro
Com toda a liberdade
Mesmo a de não pensarmos em nós
Nesse momento

Escurece quando as ímpias mãos
Iluminam os nossos recantos
Somos pirilampos
Do prazer
Com eles sonhamos
Iluminar a noite toda de prantos
De gozo
Do nosso ser