quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cinema Quarteto


I

Rastos de pessoas que vivi
Ao cair dos dias
Cinema em fim de tarde, já percebeste?
Ou então se querias
Sexo ao princípio da noite
Até as aparências nos chamarem
Também se compreende, não é?
Vou ao cinema como se o tempo não tivesse passado
Dou comigo a conversar sozinho desta vez
Mas distingo veladamente os teus passos
Diferentes dos meus e portanto
São os teus passos
Que os davas
Tão discretamente como se sobrevoasses
Os acontecimentos e às vezes
Até a própria vida - se morresses...

II

Se morresses não gostaria de saber
Nem que soubesses de mim por esse acaso
Prefiro ficar à espera de notícias todos os dez anos
Os meninos já estarão crescidos
Até se podem encontrar como se nada fosse
Sem saberem que pelo direito de um amor paixão
Poderiam ser um só, pois não
Se te encontrasse
Seria para recitar um verso amargo
E beber-te de um só trago
À lúcida memória que aqui jaz
Ainda a tua língua palpitante
Sabor que sempre volta
Quando os cabelos soltos se espraiam na areia do Guincho
Onde nunca fomos
O nosso género era mais as matas das Maçãs
Tardes pagãs – depois quase morri

III
Depois quase morri às mãos das mentiras
Engendradas com impaciência
E a natureza imberbe que tudo leva à sua frente
Aposto que estás diferente
E eu bem obrigado
Abraçando embora outros corpos
Onde tu não vives
Só uma vez te espalhaste por uma cama
Feita incenso ou aloé vera
E me deixaste exangue
Suspenso de novo à tua espera

IV

A história acaba aqui
Enquanto aquela veia ainda vibra
Era bonita essa veia
Que beijavas repetidamente

V

Oh! está diferente
Já não pulsa como antigamente...