quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Nós não somos o centro de nada

Nós não somos o centro de nada
Vivemos em sítios esconsos
Onde suspiramos para sermos ouvidos
Por aqueles que nos amam
Estamos na margem de um grande rio
Que corre aos nossos olhos
Vislumbramos destroços e escolhos
E nada podemos fazer
Deixamos correr
A água
De onde nasce a bruta energia
E a espuma
É afinal
O símbolo parco
Do nosso dia

O segredo


Em cada dia teremos que olhar a lua
Em cada noite serás minha e tua
Os poros do dia abertos
Para a nossa natureza
Olhos nos olhos em cada hora
Modelando a nossa certeza
Vais ser o vulto de cada anoitecer
Paciente
A certeza do amor
Para sempre
Vou ser uma estrela na manhã
Presente
A certeza de te ter
Até morrer
Serei eu e teu
Serás minha e tu
Segredo de um equilíbrio
Perene
Viveremos assim
A última oportunidade
Em cada gene

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A maquinação das palavras

Palavras

Que escrevo

À procura do texto

Com enlevo

Para que a música se faça ouvir

Ou que a ideia

Me dê outra vontade de sorrir

Espalho as palavras na folha de papel

(este exercício não é possível no automatismo estéril do computador)

Depois

Toco a reunir

Agrupo-as por sabor

Numa linearidade curva

Ou na triangulação

Do quadrado

O pentaedro pergunta-me

O que faço aqui

Neste plano confuso a que não pertenço?

Respondo-lhe

Afagando os seus limites

As linhas são só

Para que tu existas

São apenas um material de construção

As vidas sim

São feitas no espaço

Lá onde dizem que o Infinito existe

Mesmo se sonhas que é na tua imaginação

Queria tocar-te por dentro

E todo o meu esforço é inglório

Penso com denodo nesse limite

Que só um monstro pode atingir

Quando caio em mim

Volto a escrever as palavras

E peço-lhes

Que se movam para eu sentir

Que se agarram umas às outras

Aqui costumo sorrir

E voltar ao princípio

Da mesma maquinação

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Quero ser amotinado

Quero ser amotinado
Nesta viagem terminal
Quero ser o timoneiro
E conduzir-me até Baal
Quero ser de peito aberto
Aquele que não vê o mal
Quero ser o gesto certo
Que enfrente o momento fatal
Não imploro nem peço
Piedade amor ou processo
Mergulharei naquela sorte
Como um valente ante a morte
Que sabe estar condenado
A uma ida sem regresso
Quero ser amotinado
Nesta viagem terminal
Quero ser o timoneiro
Deste barco deste veleiro
Que se despedace em Baal
E não me levem a mal