segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pode ser que um mar como um espelho...


Pode ser um mar como um espelho
Ou um rio como um rasgo de desejo
Ou uma canção empolgante como um beijo
Pode ser que apenas oiça uns versos desgarrados
De uma antiga prédica tumultuosa
Que me fez sofrer um dia
Pode ser que tenha que esperar
Pelo amanhecer
Para que o vento na amurada do navio
Me traga as palavras
Os murmúrios
Desfaça as vozes intrigantes
Que sem querer
Me enchiam as horas de esquecimento
De mim
Pode ser que o fogo se extinga
Que faça frio mesmo se lá fora a primavera
Pode ser
Que o contador inexorável marque
Tique-taque, tique-taque, tique-taque
Ao ritmo do coração
Pode ser que tudo esteja a terminar
Como o dia
Afinal que sentido para o que não se lembra?
Pode ser que tudo não passe de um sonho
Que um cão ladre ou que um gato grite
Pode ser que seja eu
Apenas eu
Que sem querer
Me agite
Pode ser isso
Pode ser outra coisa
Que agora se resolve
Quando eu adormecer
Essa forma suave e espessa de quase morrer

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Inclino-me para o verbo...

Inclino-me para o verbo

Como para uma tábua de salvação

Há pássaros lá fora

Viajando em seus destinos circundantes

Há flores que crescem e apodrecem a toda a hora

Há seres

De todas as espécies onde a existência mora

Inclino-me para o verbo

Peço ao sol mais luz intemporal

E à chuva uma tempestade na proa do vento

Que agite os meus demónios

E liberte meus anjos

Do seu trânsito sem destino

Viajamos nesta nave espacial que por vezes abomino

Porque me leva até à ignorância de mim mesmo

Àquele limiar

Onde a faca corta o cordão

Umbilical

E um homem fica assim desnudo

De corpo e alma

Nesse desejo de viver quase imortal

Inclino-me para o verbo

Como forma de sobreviver

A todo o mal