Tinhas-me pedido uma flor
Que te beijasse o ventre
Que te acalmasse a dor
Como as flores o fazem sempre
Mas a flor que em mim nasceu
Tinha mais
Das pétalas saiu a borboleta
Que te enleou os seios
De princesa caçoleta
O caule erecto
Agora bem vivo e quente
Soltava gotas de orvalho
Pela noite dentro
E mesmo os espinhos
Que ferem sempre
Se deixaram arredondar
À tua frente
E ficaram tocando
Sem pudor
Recônditos suspiros de encantar
Era já o fim da madrugada
As estrelas recolhiam para sonhar
E a flor talvez cansada
Ensaiou uma última canção
Repousou na tua mão
E nesse recolher
De flor intensa
Murmurou ainda
Uma palavra densa
Que te adormeceu no teu torpor
Falando ou sonhando
Disse claramente
Bendita vida meu bendito amor
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