quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um chá como quem adormece


Deste-me um chá e disseste
Adormece meu querido
Tens agora
Todo o tempo do mundo
Para descansar
Dessa incerteza de viver
Vou aqui ficar por ti
A respirar até que o pó se desvaneça
E perca a forma impúdica e quase demente
Que em ti soou

Meu amor ouvi dizer ainda
Como quem morre
Ao anoitecer
No chá duas folhas suspensas
Dispersas na impossibilidade de se encontrarem
Como nós quando vivíamos
A amargura de nada dizer
Sem tempo para declarações
Só nos gestos por vezes um lampejo
Do nosso desejo

É por isso que aqui fico ainda
Arrefecendo com o chá
Até que um último murmúrio em forma de fumo
Me deixe para se juntar à cremação
Que me dissipe totalmente
Ou melhor
Me leve para aquela franja do Universo
Onde possa viver eternamente
Amálgama de elementos
Que me acolherão
Como CO2, Mg ou H2O
Vá lá saber como se desenhou o paraíso
Sem pensamentos
Sem tormentos
Pó H2O Só

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