quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nas margens frescas do Outono



O Verão grita sem cessar
Ecoando pelos corredores
Azuis e silenciosos
Da minha tristeza camuflada
Esgravato com denodo os odores
Dos momentos quase felizes
De que me esquecera
Cavalgo nos sonhos inquietos
Antes de cair desamparado na verdade
Passara uma década boçal e imperfeita
Debaixo de um céu infinito
Que ignora a dura realidade
Inicío então aquela sede mortífera
No último deserto onde o novo
Já não aflora na natureza prolífera
E no entanto
Os ventos cálidos do Verão
Pareciam apaziguadores das doenças da vida
Morava agora com vistas para o mar
Mesmo se só vislumbrava a planície verdejante
De um Alentejo alto e de abrasar
Podia baixar as gelosias ao nascer do sol
E acorrer horas mais tarde
Ao convite escaldante do entardecer
Tinha chegado a imaginar um paraíso terminal
Onde os abraços me defendessem do mal
E os beijos espaçados mas sinceros
Ecoassem como pássaros
Nas noites de gestos impropérios
Mas a palavra da verdade era estridente
Não perdoava na sua firmeza prepotente
Percebo que já não terei uma lua de papel
Nem das abelhas o seu glorioso mel
O Verão grita sem cessar
É preciso resistir
Até uma rã coaxar
Nas margens frescas do Outono
Para então recomeçar
Uma nova esperança sem dono

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