sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Horizontes

Olho o horizonte
Esbarro em paredes meias
Janelas abertas
Luzes intensas e desertas
Que cegam
Antes de deixar ver
Saio para a rua citadina
Raios de sol cortados
Em detalhes
Complicam a compreensão
Do todo
Subo a colina
Rodeado de electricidade
Nascente
De frenesi dolente
De objectos que não fazem parte
De nada
Subo ao mais alto monte
Que a natureza me concede
Onde o horizonte não se mede
Pela minha vista
Tantas cenas que não vejo
Dentro do meu ver
E depois tanto mundo
Para além deste máximo olhar
Onde nunca viverei
Tantos seres que morrem à luz do sol
Enquanto repouso calmamente
Tanto mundo que imagino
E desconheço
Tanto ser que vislumbro
E não reconheço
Ou nunca verei
Tanto espaço que acolho
À luz que lhe dá vida
E que nunca compreenderei
Encerrado num pequeno sargaço
Do tamanho de um quarto de hotel
Numa história de cordel
Olho o horizonte
Incapaz de o conhecer
Reduzo-me a uma ínfima espécie
E no entanto
Sem a luz
Não haveria nada
Nem saberia
Da cara esfacelada
Nem da dor enclausurada
Nem de tudo o que procuro
Ou que se produz
Nem da alegria
Que momentaneamente
Me seduz
Fico olhando a luz que navega
E que nesta escuridão
Me conduz
À vastidão que cega

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