domingo, 14 de março de 2010

A imperdoável canção

O erotismo
É quando o sexo escreve poemas
Quando o êxtase se confunde
Com enigmáticos fonemas
Ciciados ao ouvido
Do nosso encantamento
Por pouco não distinguimos
O vento nas dunas
E quase ignoramos
O areal sofrido
Onde espraiamos
O desejo agora incontido
Dizes palavras que não entendo
Falas como um anjo
Perdida no momento
Sem tempo
Este torpor nunca mais acaba?
Estamos por fim na eternidade?
Que me importa acabar assim
Todas as outras mortes
Seriam intragáveis
Mas esta
Em pleno festim
Dizendo palavras incompreensíveis
Tão absurdas como as bocas vermelhas
Que nos beijavam
Sem nos conhecer
Só posso agradecer
Ao acaso
Em que não acredito
Ai de mim
Queria despertar
E regressar
Ao erotismo
Poema sem palavras
Gesto sem movimentos
Momento supremo
Só interrompido pela guilhotina
Que corta o mundo em dois
Para nos separar
Suspendendo a vida
Em honra da deusa antiga
Será preciso vingar a felicidade?
E o regresso é impossível
Depois de dobrar este cabo?
Êxtase aziago
Pulsão enganadora
Pensamos estar a coberto de um fim
Confundidos com as nuvens
De onde não podemos cair
E afinal é tudo ilusão
E não sabemos como sair
É então que percebemos
Que é só
Mais um dia que termina
Na nossa imaginação
E Eros que congemina
E encerra
Esta imperdoável canção

Sem comentários:

Enviar um comentário