domingo, 11 de abril de 2010

Não escrever?

Não escrever
Por ter a certeza
Que quando escreve
Já mente
Porque se retarda a síncope
Entre o pensamento
E a mão que se movimenta
Lenta, lenta, lenta…

Quando volta atrás para reescrever
Já pouco consta do original momento
Em que subitamente
Uma ou duas fusões de energia inteligível
Lhe tinham ditado uma sequência de palavras
Que agora esquece
Hesita
Lamenta a ideia que adormece
Fica assim numa angústia
De não vivência
De impermanência
Da impossibilidade sofista
De traduzir em tempo real
O que na sua memória acontece
Maravilhoso ou banal

O prazer da escrita
Dissipa-se
Num tom de desdita
De dizer algo
Que já não refere a realidade
Maquilhando a verdade
Que assim
Nunca é dita

2 comentários:

  1. Não vale a pena
    Ninguém me tira
    Ninguém será capaz
    A minha fé de aniquilar
    A maravilha de saber amar
    As palavras.

    Nenhum ruído de comunicação
    Pode abafar este meu jeito
    De ouvir deliciada
    As palavras de que tanto gosto...
    Num intimismo tal
    Tornadas minhas
    Como saídas do meu coração.

    Ninguém
    Me vai impedir
    Para continuar a amar apaixonadamente
    A palavra
    Todas as palavras
    Embrulhadas nos livros
    No verso da poesia
    Que dizem por amor e da dor...
    E voo sobre as águas
    Num arrojo de altura
    Ao lado de Fernão Capelo Gaivota...

    Bem vêem
    Não conseguem destruir
    Minha capacidade de amar
    Esta serena sintonia da vida...

    Não vale a pena
    A palavra é uma mais valia
    Da resistência aos ódios que não sei
    De todas as guerras que repudio
    De todos os petróleos que jorram das entranhas da terra
    E conspurcam os homens...
    De todas as fomes
    De todas as injustiças
    De todas as mortes de não valer a pena.


    De cada pranto nascerá o riso
    De cada noite surgirá a alvorada
    A cada vingança oporei a temperança...
    Em cada juízo
    Colherei as possíveis e novas aprendizagens...

    E hei-de percorrer os campos e as cidades
    Os mares e os desertos
    A realidade e o sonho...
    Aprofundar mais e mais
    A minha capacidade de amar
    As gentes e as coisas
    De todas as eras e de todos os espaços.
    E quando assim não for...
    É para retemperar as forças.

    Não vale a pena, pois!
    Não quero uma razão
    Redutora das palavras
    Que são um impulso da vida
    Que faz vibrar o espírito
    E olhos mágicos a brincar com as palavras
    Encantados na sua pulcritude
    De silabas e fonemas
    Seja “maquilhando a verdade
    Que assim
    Nunca é dita”

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  2. Oi! Ficou tão grande! Foi o que saiu... Desculpe! Disse que era bem vinda! Desculpe! Eu... não sei

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